Saiba o que é e quais os tratamentos para a alopecia androgenética, condição que afeta a apresentadora Xuxa

A médica Isabel Martinez também reflete sobre o por que as pessoas relacionam mulheres com a cabeça raspada a doenças


Percepção da Beleza e os Viesses Invisíveis do Nosso Cérebro


Recentemente, Xuxa Meneghel surpreendeu ao revelar sofrer com alopecia androgenética, uma condição que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo.  Durante a conversa, ela mencionou que gostaria de raspar a cabeça, parar de tomar a pílula e passar a usar apenas loções tópicas. A apresentadora ainda disse que as pessoas não estão acostumadas a ver uma mulher com a cabeça raspada. A médica Dra. Isabel Martinez refletiu sobre isso.

“Será que são as pessoas que não estão acostumadas, ou será que, inconscientemente, ao vermos uma mulher sem cabelo, nosso cérebro ativa um gatilho automático e associa à doença? Nossa mente opera através de padrões. Desde sempre, fomos expostos a imagens de mulheres com a cabeça raspada predominantemente em contextos de tratamento contra o câncer. Essa exposição contínua construiu um vínculo automático e inconsciente: mulher sem cabelo é sinônimo de câncer”, questiona Dra. Isabel Martinez.

Mas e quando não é? E quando essa mulher apenas tem alopecia? Ou escolheu essa estética por liberdade? Por que, então, o desconforto? “A resposta está nos viesses inconscientes que carregamos sem perceber. Aquilo que nos foi apresentado como “normal” durante anos se transforma em referência, e qualquer coisa diferente disso nos causa estranheza—mesmo sem entendermos exatamente o porquê. Lembro-me de uma paciente com alopecia areata que, angustiada, me disse: “Dra., as pessoas olham para mim e perguntam se estou terminando o tratamento do câncer. Me olho no espelho e não me reconheço.” Foi nesse momento que propus algo: “Vamos ensinar ao seu cérebro uma nova imagem. Que tal experimentar uma lace?”Ela aceitou a sugestão. Algumas semanas depois, voltou ao consultório radiante: “Dra., ninguém mais me pergunta nada. Mas, o mais importante: eu me olho e gosto do que vejo”, pontua Isabel.

De acordo com a médica, nosso cérebro interpreta o mundo com base em experiências passadas e associações inconscientes. A forma como nos vemos afeta diretamente como nos sentimos.

“Foi esse tipo de questão que me levou a estudar neurociência na USP. Durante anos, ao ler artigos de dermatologia que relacionavam o surgimento de doenças a “gatilhos emocionais”, eu me perguntava: “Mas como assim? E depois?”Eu não me conformava com essa explicação. Precisava entender como e por que a emoção desencadeia uma condição na pele, nos cabelos, no corpo. E a resposta está cada vez sendo descoberta, a interseção entre mente e biologia”.

“A verdade é que não existem respostas absolutas. No momento Existem mais perguntas que nos levam a reflexões mais profundas e, muitos caminhos de pesquisa, que poderão no futuro nos levar, a uma vida melhor.Mas hoje, se nos permitirmos enxergar além dos nossos próprios viesses, ouvir as pessoas sem julgamento e compreender que suas percepções do mundo são moldadas por suas histórias individuais, daremos um passo além na forma como lidamos com a beleza, a saúde e o bem-estar.E talvez, ao fazermos isso, possamos reescrever os significados que atribuímos ao que é belo, normal e saudável.

Afinal, a beleza não deveria ser um padrão—mas sim uma escolha”, reflete.
Embora a transformação coletiva da forma como enxergamos a beleza e o envelhecimento possa levar anos, há algo que podemos fazer agora. Podemos aprender a reconhecer os sinais de um problema e agir antes que ele impacte nossa autoestima e qualidade de vida.

Isabel Martinez diz que alopecia androgenética é um desses desafios silenciosos. “Muitas mulheres só percebem quando os fios já estão visivelmente ralos, quando o couro cabeludo começa a aparecer mais do que gostariam. E, nesse momento, surge a dúvida: existe solução?A resposta é: quanto antes você agir, melhores serão os resultados”.

Segundo a médica, a alopecia androgenética padrão feminino é uma condição crônica que leva ao afinamento progressivo dos fios. “Ela não se manifesta com falhas bruscas ou áreas completamente sem cabelo de um dia para o outro, mas sim com um padrão característico de rarefação, principalmente no topo da cabeça e na linha de repartição”.

A médica lista os sinais importantes em mulheres:

✅ O elástico de cabelo dando mais voltas ao prender o rabo de cavalo.

✅ O rabo de cavalo ficando mais fino com o passar do tempo.

✅ O couro cabeludo ficando mais sensível e ardendo ao sol, pois os fios já não cobrem perfeitamente a região, permitindo a passagem direta dos raios solares.

✅ A rarefação no topo da cabeça, tornando a divisão dos fios mais aparente.

✅ O incômodo ao tirar uma selfie, sentindo a necessidade de mudar o lado do cabelo várias vezes para disfarçar a rarefação.

Ela afirma que muitas mulheres só percebem a mudança quando, além da rarefação, surge uma queda acentuada, que chamamos de eflúvio telógeno. “Esse processo pode ser desencadeado por diferentes fatores, agravando ainda mais a situação”.

De acordo com a médica, a alopecia androgenética tem um forte componente genético e hormonal. “O principal fator envolvido é a sensibilidade dos folículos capilares à ação dos andrógenos, especialmente a di-hidrotestosterona (DHT), um hormônio derivado da testosterona”.

Martinez elencou outros fatores também influenciam na piora do quadro da alopecia androgenética como:

✅ Alterações hormonais (comum na menopausa e no climatério)

✅ Estresse crônico (que pode acelerar a perda capilar)

✅ Deficiências nutricionais (como ferro e zinco )

✅ Processos inflamatórios no couro cabeludo

A alopecia androgenética não tem cura, mas tem controle e tratamento, o quanto  antes tiver o diagnóstico melhor e, se tratado e acompanhado adequadamente, aponta a médica. “O objetivo do tratamento é interromper ou diminuir  a progressão do afinamento , fortalecer os fios existentes e estimular o crescimento de novos cabelos”

Ela destaca as opções terapêuticas:
-Terapia oral e tópica – Uso de medicamentos específicos que bloqueiam a ação da DHT no folículo capilar, preservando e prolongando a vida dos fios.
-Terapias injetáveis – Técnicas descritas na literatura, ajudam a regenerar os folículos e estimular o crescimento capilar.
-Loções e ativos tópicos – Produtos com ingredientes como minoxidil, alfaestradiol  são essenciais para estimular os fios diretamente no couro cabeludo.
-Correção nutricional e suplementação – Ajustar a alimentação e usar suplementos específicos pode ser um grande diferencial para fortalecer os cabelos de dentro para fora.
-Tecnologias avançadas – Terapias com laser de baixa intensidade  vêm demonstrando excelentes resultados no tratamento da alopecia androgenética.

Com o Tratamento, é Possível Recuperar os Fios?
Isabel Martinez diz que a resposta depende do grau de avanço da alopecia. “Se o folículo capilar ainda estiver ativo (mesmo que produzindo fios muito finos), é possível melhorar  o cabelo.Porém, se a alopecia estiver em um estágio avançado, com folículos já atrofiados e sem atividade, o tratamento pode estabilizar a perda, mas não trazer de volta os fios perdidos”

Por isso, agir cedo é essencial. A médica afirma que quanto mais cedo identificamos o problema, maiores são as chances de recuperar um cabelo bonito e saudável. “O mais importante é entender que você não precisa aceitar a perda capilar como algo inevitável. Existe tratamento, existe ciência e existe esperança.O espelho deve refletir sua essência, e não as limitações que o tempo tenta impor”, finaliza.